sexta-feira, 5 de março de 2010

É importante criar desobjectos

tinha aprendido que era muito importante criar desobjectos.
certa tarde, envolto em tristezas, quis recusar o cinzento. não munido de nenhum artefacto alegre, inventei um espanador de tristezas.
era de difícil manejo – mas funcionava.

Estas palavras são de Ondjaki, um emergente escritor angolano, que tem uma relação diferente com as palavras, referindo-se à sua recente obra de poesia, materiais para confecção de um espanador de tristezas.
Cito dois poemas dele, para mostrar o potencial positivo das coisas/palavras más:
“o início”

segui a lesma. a baba dela parecia um rio de infância perdido no tempo. escorreguei no tempo.
nesse rio havia um jacaré. a fileira enorme de dentes lembrou-me uma pequena aldeia cheia de cubatas [talvez a aldeia de ynari];
adormeci na aldeia.
ouvi um barulho – era a lesma a sorrir.
o sorriso fez-me lembrar um velho muito velho que escrevia poemas. os poemas eram restos de lixo que ele coleccionava no quarto ou no coração das mãos.
abracei o velho. quase que eu esborrachava a lesma.
(retirado de http://www.kazukuta.com/ondjaki/espanador_de_tristezas.html)

O Obsceno, A Obscena
era que: obsceno, ou obscena, eram palavras bonitas.
adoro apreciar um corpo pela obscenidade - fica bonito
até excitar a comoção.
já vi uma boca obscena que era um poema vivo.
uma mão obscena já me desconcentrou a existência.
línguas obscenas trazem paz ao caos de um orgasmo.
mais até:
uma vez, uma nuvem obscena fez o arco-íris corar.
o céu ficou lindo.
(retirado de http://sosleitoresmurca.blogspot.com/2010/02/receita-para-que-nao-murchem-nem-se.html)
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