sábado, 27 de fevereiro de 2010

Editorial

Quantos correm, a quantos falta o tempo!
Onde estão as coisas belas, onde está a sabedoria das palavras simples?

Porque a tantos falta o tempo, porque a tantos falta a sensibilidade e porque outros a desejam e procuram,
Nasceu este blogue.
Aqui, as palavras são relativas, mas nem por isso mais indignas da nossa atenção. Aqui, o segredo está no apreciar e cultivar dessa relatividade. E porque não queremos que seja segredo, aqui estamos.

4 comentários:

  1. Caro Talvez, concordo consigo.
    Cada vez mais o significado das palavras perde o seu valor. Nos dias de hoje, as palavras são totalmente menosprezadas.
    Por falta de tempo, por falta de sensibilidade? Será?
    Sim, talvez.
    A verdade é que as pessoas já não lêem como antigamente pois as novas tecnologias vieram trazer novas formas de obter conhecimento e a leitura e os livros deixaram de estar em primeiro plano.
    E no meio de tanto lixo electrónico espalhado pela internet é também cada vez mais difícil seleccionar e separar a sabedoria e as coisas belas da palavra. Falam de desenvolvimento, do imenso conhecimento espalhado a que todos temos acesso através de um simples clique, mas só fez com que as pessoas se tornassem mais preguiçosas e desleixadas mentalmente.
    E sim, e ainda na óptica das novas tecnologias, todo o conhecimento, todas as notícias a que temos acesso deixaram-nos cada vez mais insensíveis. Temos acesso a todas as imagens chocantes, a tudo o que o mundo tem de pior. A nossa geração já nasceu e cresceu insensível. Coisa que os nossos pais e avós não tinham acesso. Por isso é fácil perceber a nossa insensibilidade face às palavras como quase em tudo na vida.

    No entanto, e como não insensível às palavras, acompanharei este cantinho sempre que puder quando a falta de tempo não me levar a melhor!

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  2. Primeiro, deixe-me agradecer-lhe pelo seu comentário.
    Nele, explicita tudo o que se passa com a nossa sociedade.
    Fala do conhecimento com que as pessoas são inundadas, notícias agrestes preocupadas com o lucro. Muitas vezes, para caracterizar um estilo de música, diz-se que chocou a sociedade. A maior parte das vezes, isso não é verdade. Porque depois de tanto choque, a novidade é prosseguir com o antigo. Como escreveu Umberto Eco: «Muitas vezes são os inquisidores a criar os heréticos». O que Umberto Eco também disse, é que a leitura é uma necessidade biológica que nenhum ecrã conseguirá superar. Se assim for, temos famintos por toda a parte.
    Refere também a preguiça, a inércia - esse, creio, é o principal problema do nosso país. Imagine, o Tratado de Lisboa foi aprovado sem referendo, tal como o Acordo Ortográfico (que abomino, por acaso). Ouviu falar de alguma manifestação de 200 mil pessoas por isso? Se as pessoas não se revoltam pela própria língua, pela independência da própria Nação,
    então lutarão pelo quê?
    E não se coibem, os ditos especialistas de falar de «desenvolvimento, do imenso conhecimento
    espalhado a que todos temos acesso através de um simples clique», especialistas que hão-de achar
    que quantidade é qualidade - o que não é. MacDonald's e Wikipédia são exemplos disso.
    Acrescenta, finalmente, que temos acesso a tudo o que o mundo tem de pior. Mas não temos também acesso ao que o mundo tem de melhor? Não podemos nós contemplar as mais belas imagens, cada vez mais escassas, da Natureza? O tempo é crucial. É crucial para se poderem apreciar as coisas com calma, e absorver-lhe os pormenores.
    Mas este problema da falta de sensibilidade não é recente. Vem do tempo em que as pessoas esqueceram que sentir é tão importante como conhecer, e essencial para saber.
    Se me permitir, fecho com uma citação sua:
    «Desprovido não de sentimentos
    Mas sim de emoções
    Não ouves os batimentos
    Dos outros corações.»

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  3. Caro Talvez,
    Pois, não acho que a leitura seja uma necessidade biológica. Aliás, acredito sinceramente que existam muitas pessoas que não mostram nem têm qualquer interesse por esta arte. De longe, vejo pessoas famintas pela leitura. É algo que se está a perder nos dias de hoje.
    Acredito que as pessoas gostam de se manter informadas sobre o mundo, e sim, tal como têm acesso a tudo o que o mundo tem de pior, como referiu, também têm acesso ao que o mundo tem de melhor! Mas será que é isto que lhes interessa? A nossa mente já está tão transformada e desfigurada que o” chocante”, aquilo que causa sensação são as coisas ditas horríveis pelos quais estamos rodeados. Perdeu-se o romantismo dos gestos simples, do quotidiano, e tornamo-nos máquinas de coração frio que não sentem nada. A nossa sensibilidade para as imagens bonitas e belas tornou-se agora uma miragem porque já não estamos acostumados e não sabemos como reagir a elas.
    Sei que posso ser contraditória ao que disse anteriormente. Mas na minha opinião, a nossa insensibilidade advém do que temos acesso e somos sujeitos no dia-a-dia. É resultado daquilo que somos e nos transformamos.
    No que diz respeito à inércia, e do exemplo que tomou sobre as pessoas não se revoltarem nem pela sua própria língua. No meu parecer, e tendo em conta que sou de uma geração que já nasceu com muitos dos direitos que foram reivindicados, e volto a referir, pelos nossos avós, pais, fez com que não tenhamos esta necessidade de lutar por nós próprios. Nós não sabemos o que é, não ter direitos. Aqueles pelo que os nossos antepassados lutaram. Somos muito pouco reivindicativos e deixamo-nos levar pelo sistema.
    Nós temos acesso àquilo que o sistema nos quer transmitir: medo, insegurança e inquietação. Só assim nos consegue controlar como sociedade.
    Desculpe a divagação…

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  4. Não tem por que se desculpar, nem preocupar-se com contradições: o que interessa é que disse o que lhe vinha no pensamento, e não há nada mais natural e louvável. Aliás, se precisar de um sítio para publicar o seu pensamento, terei todo o prazer em dar-lhe permissões de edição.
    Concordo com o que disse, mas também lhe queria perguntar: e a ansiedade pela perfeição? A este respeito, coloquei um post com uma história interessante, vinda do Oriente.

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