domingo, 21 de março de 2010

Verdade? É relativo

Um conto oriental sobre a relatividade da verdade:

Certo dia, o rei preocupado com a falta de verdade dos seus cidadão, mandou chamar um conhecido ermita que vivia na floresta e perguntou-lhe o que podia fazer para que as pessoas fossem melhores.
- Posso dizer-lhe, majestade, que as leis não bastam para tornar as pessoas melhores. Os Homens têm de cultivar certas atitudes baseadas na compaixão e na claridade da mente, para alcançar a verdade de ordem superior, que nada tem a ver com a verdade comum. - respondeu o ermita.
Desconcertado, o rei reagiu:
- Do que não há dúvida é que posso conseguir com que digam a verdade, posso obrigá-las a isso.
O sábio sorriu timidamente.
Dias depois, o monarca mandou montar um cadafalso na ponte que dava acesso à cidade e um esquadrão revistava e interrogava todos os que quisessem passar. «Se disser a verdade entrará; se mentir, será conduzido ao cadafalso e enforcado», eram as ordens do rei.
Ao raiar do dia, e após uma noite de meditação, o ermita dirigiu-se  à cidade. Avançou para a ponte quando o capitão da guarda se interpôs no seu caminho para o interrogar:
- Onde vais?
- Vou a caminho da forca, para que me possam enforcar - respondeu o sábio serenamente.
- Não me parece - duvidou o capitão
- Então, capitão, se menti, enforque-me.
- Mas se te enforcamos por teres mentido - replicou o capitão -, teremos tomado certo o que disseste e, nesse caso, não te teremos enforcado por mentir, mas por dizer a verdade.
- É isso mesmo - afirmou o sábio. - Agora sabe o que é a verdade... a sua verdade! Informe sua majestade sobre isto..
Deu meia volta e os seus passos dirigiram-se à frondosa floresta onde vivia.

2 comentários:

  1. Um amigo costuma dizer-me que nas discussões humanas predomina naturalmente a justificativa, o adorno: certamente porque o ser humano não se assume feio, tantas e tantas vezes injusto e mau e deseja, anseia ser belo, bonito, justo e bom, ainda que lá bem no íntimo reconheça que não é.
    Veio-me isto á memória quando acabei de ler o texto.
    Agora vou dar meia volta e dirigir os meus passos à frondosa floresta urbana onde sobrevivo.
    Deixo-te um abraço.

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  2. Obrigado. Eu ainda me lembro do seu blogue, belamente recheado de essências do espírito concretizadas pela escrita.

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